* 300 g de miolo de amêndoas ; 450 g de açucar; 2 a 5 chávenas de água; 50 g de manteiga; 12 ovos e 1 cálice de vinho de porto.
Com a água e o açucar faz-se um "ponto de fio". Junta-se-lhe a amêndoa ( que já deve estar pelada, torrada e moída), a manteiga, o vinho do Porto e as gemas. Volta ao lume batendo -se sempre com uma colher de pau. Seguidamente deita-se numa forma untada com manteiga e vai a cozer ao forno, em banho maria.
Vitorino Nemésio, é natural de Santa Cruz, Praia da Vitória, Ilha Terceira.
Ilustre filho desta Ilha, foi Escritor, Romancista, Professor Catedrático, Poeta e um grande Comunicador.
Para além de tudo era um homem simples, um homem do Povo, como ele tantas vezes o afirmou. Dizia se sentir bem no meio dos "seus", e adorava tocar viola e cantar.
Tenho a honra de o ter conhecido pessoalmente. Ele parava à porta da Oficina de Sapateiro do meu avô Salsinha e proseavam acerca de vários temas. Num desses dias, para felicidade minha, eu estava por lá e o meu avô apresentou-me como sendo sua neta e filha, pois que me estava criando.
O Senhor Vitorino Nemésio, fez um enorme elogio, ao trabalho confeccionado pelo meu avô e por acaso nesse dia ele estava fazendo um lindo cinto, para mim.
Também tenho um dos seus livros: "Festa Redonda", que contém lindas quadras, decimas e cantigas de Terreiro, oferecidas ao Povo da Ilha Terceira.
Vou citar algumas dessas quadras, escritas à sua maneira, ou seja, ele as escreveu como o povo falava.
CANTIGAS À MINHA VIOLA
Minha viola de luxo
Minha enxada de cantar,
Meu instrumento de fogo,
Caixinha do meu chorar!
Viola, bordão de prata
Vida violeta, violeta...
Prima, coração que mata
Poeta! Poeta! Poeta!
No florão da minha viola
Pus uma tira de espelho
Para ver, de quando em quando,
Se estou novo se estou velho.
Ó viola encordoada
Com quinze cravos de aposta,
Minha pera acinturada ,
Minha maçã da Bemposta!
Quando te toco nas cordas,
À boca do coração,
Vou-me sangrando em saúde
Que nem sumo de limão.
Tens os pontos doiradinhos
Tens os espaços de luto,
Cada prima é uma flor,
Cada cravelha é um fruto.
Pendurada à tiracolo
No teu cordão cor de vinho,
És o meu saco de cego,
O meu burro e o meu moinho.
Meu amor, deixa falar!
Dorme, não percas a esperança,
Morta, na minha viola,
Serás sempre uma criança.
Que seis meninas de arame
É que te levam à campa,
Com seis florinhas de pau
Espetadinhas na tampa.
E o limão, a violeta,
A madrepérola, o espelhinho,
Hão-de te servir de terra
E de mortalha de linho.
CANTIGAS À ILHA TERCEIRA
Lá vai a Ilha Terceira
Por riba dos mares afoitos,
Carregadinha de amores,
De mistérios e de biscoitos!
Esta nossa Ilha Terceira
Sempre foi alto lugar:
Em amores, bodos e toiros
Fica bem a desbancar .
A Ilha Terceira é fêmea
Sã Miguel saiu varão,
Graciosa rapariga
E Sã Jorge tubarão...
A nossa Ilha Terceira
Em dois pontos fica atrás:
De Deus do Céu e de ti
Que tanta graça lhe dás!
Ó Angra, nobre cidade,
Que tens baraço e cutelo,
Vê-se a croinha do Pico
Das muralhas do castelo.
Não subo ao monte Brasil,
Não sou facheiro nem facho:
Tenho o navio no peito,
Quando o quero sempre o acho.
Ó leal cidade de Angra
Mimória do meu amor,
Pisão da minha alegria,
Castelo da minha dor!
Angra, maioral cidade,
Desterro do Gungunhana ,
Onde fui às cavalhadas
No meu cavalo de cana.
Ó Angra da figalguia
E procissão do triunfo!
Em amores puxei-lhe espadas
Ganhou-me a dama de trunfo.
CANTIGAS DE TERREIRO
Quem a mim me ouvir cantar
Cudará que estou contente...
Estou mais triste do que a noite,
Que chega e ninguém sente .
Teu pai não me deu o sim,
Tua mãe deu-me um senão;
Só teus olhos me disseram,
Um que sim, outro que não.
Quatro coisas são precisas
Ao amor para durar:
Firmeza, galantaria,
Ter perna, saber chorar!
Tu gostas tanto de flores
Que já lhe apanhaste jeito:
Parece uma rosa branca
A mão que levas ao peito.
Se casarmos, rapariga,
A minha promessa é isto:
Ir cua vela de arroba
Discalço ao Sr. Santo Cristo.
Fui-me confessar ao padre:
Ai! que lágrimas chorei!
Lá me deu a assolvição
Pelo muito que te amei.
Açafate de pão alvo
Quer erva-santa ao redol:
Um home carece esposa
Como o trigo pede sol.
Fui correr bodos contigo,
Troixe a rosquilha no braço,
Pão de cabeça à capota,
Alfenim no teu regaço.
E muitas, muitas mais, lindas quadras se podem ler neste livro: "Festa Redonda", a que aconselho a lerem e se puderem comprar, compram uma rara Relíquia!
GASTRONOMIA
A gastronomia tradicional resultou das mais variadas influências. temperada com especiarias exóticas trazidas pelas naus e galeões que por aqui passaram nos séculos XVI e XVII, transformada por 80 anos de domínio Espanhol e enriquecida por receitas conventuais de doces, confeitos e licores, apresenta hoje um sabor muito popular.
Podemo-nos deliciar com a "Sopa do Espírito Santo", a "Alcatra",o "Sarapatel" e as "Morcelas", as várias receitas de polvo e os mais variados pratos de peixe.
Mas é nos doces que a cozinha local mostra os seus primores em mais de duzentas receitas: "Confeitos", "Donas Amélias ", Coscorões " e o Alfenim ".
O queijo de cabra fresco e o queijo da Ilha são complementos apreciados da refeição.
No que respeita a vinhos temos o "Vinho de cheiro" e o "Verdelho".