A obra de Florbela é a expressão poética de um caso humano.
Decerto para infelicidade da sua vida terrena, mas glória do seu nome e glória da poesia portuguesa, Florbela viveu a fundo esses estados quer de depressão quer de exaltação, quer de concentração em si mesma, quer de dispersão em tudo, que na sua poesia atingem tão vibrante expressão.
Mulheres com talento vocabular e métrico para talharem um soneto como quem talha um vestido; ou bordarem imagens como quem borda a missanga; ou (o que é menos agradável) se dilatarem em ondas de verbalismo como quem se se espreguiça por nada ter que fazer, que dizer - naturalmente as houve, e há, antes e depois da vida de Florbela.
Também ,decerto, apareceram na nossa poesia autênticas poetisas, antes e depois de Florbela.
Nenhuma porém, até hoje, viveu tão a sério um caso tão excepcional e, ao mesmo tempo, tão signifificativamente humano.
Jorge de Sena dirá: tão expressivamente feminino.
José Régio.
Se por minhas palavras quisesse fazer a descrição poética de Florbela, não encontraia palavras que a descrevesse tão profundamente.
Adoro a sua poesia. Tenho , "Poesia Completa" e "Sonetos", desta grande poetisa, com a qual me identifico sobremaneira.
Deixo-vos o meu Soneto preferido :
AMAR!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amra ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!..
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder...pra me encontrar...