Em 1990, com 40 anos, eu pensava que tinha conseguido crescer e ser diferente da família de origem, iria ter mais sucesso na vida e criar os filhos contigo a meu lado para sempre.
Tudo parecia certo e sem sobressaltos.
Segura na nossa relação, pensei que não seria preciso fazer muito mais, já existia tanto entre nós, que não valeria a pena reinventar o Amor.
A sombra da minha vida, vivida até então, tinha ficado para trás... os fantasmas do medo teriam ficado esquecidos (julgava eu) para sempre.
Mas...não foi o que aconteceu.
Outros medos e dúvidas surgiram, muito diferentes no tempo e conteúdo, mas não menos importantes e marcantes nos anos que se seguiram.
Em 2000, com 50 anos, olhei para a década vivida, e curiosamente achei não estar tão segura de tudo aquilo que pensei como dados seguramente adquiridos.
Voltaram outros medos, outras incertezas, outras angústias até então desconhecidas...novas mudanças de Vida!
Considerava que a consciência moral não se formava pela "correcção" da natureza da pessoa, mas sim pelo respeito que estabelecímos com ela, com ponto de partida na atenção sensível às emoções e ás suas capacidades de comunicação e desenvolvimento.
Não sou nem nunca fui uma pessoa perfeita, mas sempre procurei ser correcta e agir de acordo com os valores em que acreditava, muito embora também discordasse algumas vezes, ( o que é saudável) em prol dos opositores, respeitando mas sobretudo valorizando muito mais a Amizade, e acreditei que o respeito e o Amor estavam acima de ideias vanguardistas ou outros requisitos como crenças e religiões.
Para quem como eu nasceu em 1950, e que tanto me esforçei para nao me "transformar", nem me deixar levar facilmente, foi duro ver e viver (conviver) com a alteração gigantesca que sofreram as duas gerações seguintes.
Continuei defendendo as minhas convicções.
Duas décadas difíceis...tempestuosas, cheias de mudanças a vários níveis, sendo os Psicológicos e Sociais os que mais me abalaram.
Na infância, achava que um Sexagenário era um Ser velhíssimo, e como tal merecedor de respeito não só pela idade, mas pela sua Sabedoria
Nada é o que parecia...realmente ás vezes sinto que não faço parte "deste tempo", desta ERA.
A Vida revela-nos mudanças inpensáveis!
Eu que pensava há 40 anos atrás, poder alterar tantas coisas, cultivando ávidamente a cultura, o saber e o respeito, vejo com alguma mágoa, que de pouco ou nada serviu lutar sem baixar os braços, muito menos deixar de sentir e viver, seguindo a orientação e cultura de valores e ideais adquiridos.
Acabo rendida...foi uma luta Inglória!
CHICA
2-3-2013